domingo, 8 de janeiro de 2012

LEONARDO DA VINCI




Sou Leonardo da Vinci. Nasci na pequena região de Anchiano, perto de Venci, nas proximidades de Florença, em 15 de Abril 1452.








O meu pai biológico, Ser Piero, era um rico e influente notário florentino e a minha mãe uma bela camponesa. Poucos meses depois do meu nascimento, o meu pai casou-se com uma adolescente florentina e a minha mãe com um pasteleiro de Vinci que me ensinou a sua arte.

Desde muito cedo, passava a vida a desenhar, a estudar geometria a tocar alaúde e a cantar bonitas baladas. Muita gente apreciava as minhas adivinhas.




Apesar do meu pai ser um burguês rico, não frequentei a Universidade, nem  tive acesso ao latim nem ao grego, falha que me impediu de ler com facilidade os livros dos antigos dos sábios. Fui estudando sozinho algumas palavras que considerei importantes.


No entanto, aos 16 anos, já desenhava e pintava com genialidade.


Apesar do meu pai não gostar muito que eu seguisse a vida de artista, recomendou-me a  Andrea del Verrocchio, que me tornou seu aprendiz.



Aos vinte anos  tornei-me membro oficial da guilda de São Lucas, um importante centro de difusão artística.
Vivi numa época de grandes mudanças. O homem pensava que era centro do mundo e podia mudar tudo através do seu empenho. Como disse o arquitecto Alberti: “ Os homens podem tudo se assim o quiserem”.





Nesta altura as cidades ricas rivalizavam entre si e queriam tornar-se verdadeiros centros de arte o que era bom para os artistas.
Achavamos que a conduta individual e ao mesmo tempo fraternal de irmão poderia conduzir a uma sociedade mais harmoniosa e justa. Era uma forma de afirmar o valor universal de toda a humanidade.

 Passei a vida a aprender a ver, a compreender o que via, a observar e a experimentar, por isso é que demorava muito a fazer as minhas obras artísticas. Foi também o segredo das minhas invenções mecânicas.





De tudo tirava notas num caderno. Como era canhoto, escrevia da direita para a esquerda. Assim, os meus cadernos só podiam ser lidos ao espelho.











Um dia o mestre Verrochio que estava a trabalhar num Baptismo de Cristo, pediu-me  para pintar um anjo no referido quadro. Houve quem dissesse que o meu anjo resultou melhor do que o resto da pintura o que me valeu o reconhecimento de todos.








A única coisa que pintei sozinho foi uma paisagem sobre o rio Arno, em 1472.



A virgem do Cravo, pintada, em 1475, também é totalmente minha.





Botticelli – Lembras-te quando servimos comida na taberna “Os três Caracóis”, junto à ponte Vecchia? Na verdade, como renascentistas que éramos devíamos experimentar tudo. É a nossa conduta apoiada na razão que dirige o destino de cada um de nós e da sociedade. Já éramos espíritos inquietos. Tu estavas sempre a resmungar sobre a quantidade de utensílios que faltavam na cozinha, para tornar as tarefas mais rápidas e poupar energia. Fomos despedidos.




Depois fundamos uma taberna só nossa, com o dinheiro do teu  pai.: A Insígnia das Três Rãs de Sandro e Leonardo. Não durou muito porque ninguém queria os nossos pratos cheios de arte.

Eu, também comecei a receber importantes encomendas.
Leonardo – Pois, mas eu tive, ainda,  de me contentar com pequenos trabalhos, até que os monges do convento de Scopeto me encomendaram a Adoração dos Magos, que não cheguei a acabar. Neste quadro comecei a utilizar as leis da perspectiva já em voga na altura.

 
A perspectiva permitiu-me definir a profundidade no plano e relacionar o espaço real, aquele que vemos, com o espaço que desenhámos ou pintámos.

Para isso tive que  recorrer a conceitos de geometria projectiva (centro de projecção, linhas paralelas representadas como linhas convergentes, ponto de fuga) para criar os meus quadros com um aspecto tridimensional.

Nessa altura percebi que devia dedicar-me aos retratos que eram bem pagos pelas famílias ricas. Para mim era também uma forma de mostrar que os rostos humanos são uma forma de carácter de cada pessoa.
Eu admirava os mestres flamengos que tinham conseguido captar através da luminosidade das cores essa vida interior, mas eu pensava conseguir retratar ainda os afectos e os estados de ânimo.

Para isso fiz muitos estudos de rostos e mãos. Passava a vida a experimentar e a explorar o mundo de uma forma diferente, como os navegadores desta época.



Por volta de 1480 comecei a pintar "São Jerónimo", que deixei inacabado. Neste quadro torna-se evidente esta preocupação.




Quando Roma declarou guerra contra Florença eu ofereci os meus serviços a Lourenço de Médicis como engenheiro militar. Para que percebesse melhor as ideias mandei-lhe desenhos e maquetas feitas em massa e maçapão. Mas Lourenço de Médicis pensou que eram uma prenda e acabou por as servir aos convidados num jantar.


Resolvi ir para Milão e Lourenço de Médicis como desculpa por ter comido as minhas maquetas, entregou-me uma carta de recomendação para Ludovico Sforza. Mas como sou muito curioso, abri a carta e descobri que apenas me recomendava como tocador de alaúde. Rasguei a carta e escrevi outra onde me dava como o melhor construtor de pontes, fortificações, catapultas e muitos mais dispositivos, como convinha àquele tempo de guerra entre as cidades. Acrescentava, no fim, que era um grande pintor, escultor e que contava adivinhas como nenhum outro, além de fazer nós e bolos como ninguém.

Quando Ludovico leu esta carta tão atrevida quis conhecer-me e acabei por me tornar Conselheiro de Fortificações e mestre de Festejos e Banquetes na corte Sforza.
Em Milão, concentrei-me no projecto de um estátua para Francisco Sforza. Concebia com quase oito metros de altura e tinha o cavalo empinado. Isto obrigava-me a encontrar a base de apoio, porém, pensei que não há nenhum problema que não possa ser resolvido com estudo e observação.
Em 1492, fabriquei um modelo em barro. Que usei para decorar a festa de casamento de Bianca Maria Sforza, juntamente com catedrais e palácios enormes em maçapão e gelatina.
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A estátua de Francisco Sforza não chegou a ser feita porque  o bronze que era necessário foi gasto no fabrico de canhões.


Este facto reforçou, a minha paixão pelas máquinas que facilitariam a arte da guerra e seriam capazes de poder tornar a vida quotidiana do Homem mais fácil.
Por esse mesmo motivo desenhei fortalezas, sistemas complexos de defesa, máquinas de guerra para cercos, canhões de carga automática , bestas de repetição, carros de combate, blindados e outros com cutelos móveis que chegaram a ser utilizados contra os franceses.


Para além disso criei, um veículo de duas rodas, um fato de mergulhador, uma nau, o saca-rolhas, um pequeno moinho para a pimenta, uma dobadoira para a esparguete; um lava loiças, um assador automático  e muitas outras coisas

No entanto, o meu grande sonho era voar. Por isso, dediquei muito do meu tempo a observar o voo dos pássaros e dos insectos, bem como a sua anatomia.

Cheguei a inventar e a construir uma máquina com hélices e outra com asas articuladas que para meu desgosto não funcionaram.
Tal como muitos no meu tempo, compreendi que a observação da natureza era imprescindível para que o Homem se afirmasse como autêntico criador. Com as minhas observações,  aprendi que a natureza nada faz em vão.
A mão e a inteligência do Homem são os instrumentos que lhe asseguram  o poder sobre o mundo natural.

Preocupei-me  com os sistemas internos do corpo humano, e enquanto artista interessei-me pelos detalhes externos da forma humana, estudando exaustivamente as suas proporções.
Dando continuidade àquilo que na Antiguidade Clássica era conhecida como a proporção áurea estudei longamente as proporções do corpo humano, tendo concluído, ao contrário do romano Vitrúvio, que o centro do Homem inscrito no círculo se encontra no umbigo, mas o centro do Homem desenhado no quadrado, encontra-se não aí mas um pouco acima do sexo.
Em 1490, Ludovico Sforza encomendou-me o retrato de Cecília Gallerani, conhecido como a dama do Arminho. Nele ainda sigo a linha dos meus mestres flamengos.
Nele situei o corpo de Cecília  na diagonal em relação à superfície do quadro, de forma a contrastar com a cabeça, orientada para a direita e com o olhar para fora. Este dinamismo é acentuado pelo gesto do arminho, que é igual ao da jovem, cuja mão repete o movimento do animal. Aí usei, também diversos símbolos, o arminho, cuja palavra grega tem um som muito parecido com Gallerani e por outro lado é um símbolo da virtude.

 Em 1495, os irmãos do Convento de Santa Maria Delle Crazie encomendaram-me “A Última ceia" para a sua sala de jantar. Como sempre, demorei muito a acabar este trabalho mas era necessário experimentar, por isso bebi e comi como Cristo e os apóstolos e pensar. Como seriam os gestos de Cristo quando disse: “Em verdade vos digo, um de vós me atraiçoará”.
Como no texto bíblico, os discípulos de Cristo questionam-se entre si e é isto que coloca quem vê a cena no seu âmago. Cristo aparece com o rosto resignado e as mãos abertas. Entre os apóstolos, o único que está quieto e tenso, como que separado por Pedro, é Judas. Este parece que espera que Cristo diga o seu nome, enquanto aperta com a mão, aperta o saco das moedas.
Em 1498, fui encarregado da decoração da Sala delle Asse.
Em 1499, a política expansionista da França  rompe o frágil equilíbrio em que viviam as Repúblicas de Itália. O rei de França entra em Milão e eu fiquei sem protector.
Fui, então para Mântua, onde encontrei o apoio de Isabella d´Este.

Daí passei a Veneza e voltei a Florença, onde não se senti muito bem.

É que nesse tempo senti-me mais atraído pela geometria e pela matemática.
É então que o secretário do rei francês me encomenda a “Madona do Fuso”.
Mal  acabei, entrei ao serviço de César Bórgia, como engenheiro militar.
  
 No entanto, em 1503, voltei a Florença. Aí pintei o meu quadro mais célebre, “A Gioconda” ou “Mona Lisa”. O quadro foi-me encomendado por Francesco del Giocondo, um mercador rico de Florença. No entanto, nunca entreguei o quadro. Aqui utilizei diversos recursos, para que a pintura transmitisse diversas emoções a quem o observa. Desde que pintei a Adoração dos Magos, tive a certeza de que, para conseguir esse  efeito de mistério tinha que deixar ao espectador algo para imaginar.
Experimentei não desenhar os contornos e pintar as formas do rosto e do corpo com cores suaves, como se perdessem nas sombras. Esta técnica, que mais tarde chamaram sfumato, faz ressaltar a expressão dos olhos e a comissura dos lábios. Daí o observador sentir a sua expressão como misteriosa.
Ainda neste quadro, alterei a linha do horizonte da direita que ficou mais alta do que a da esquerda. Desta forma, quando concentramos sobre o lado esquerdo, a mulher parece mais alta. Ao contrário, quando nos concentramos no lado direito, Mona lisa parece mais baixa. Até o seu rosto parece modificar-se com a mudança de posição.
Rafael – Ah! Existem muitas mais coisas nesse quadro. Eu ficava absolutamente fascinado a olhar esse quadro, por isso ia frequentemente ao teu estúdio.
Leonardo – Sim, na verdade, Rafael era um jovem muito sensível e um grande artista.
Nesta altura tive, também a oportunidade de ser membro de um júri que devia avaliar a escultura  “David” de Miguel Ângelo. Fiquei maravilhado. Este jovem, tal como eu, estudava os corpos até conhecer o mais escondido dos seus músculos.
O nosso destino voltou a cruzar-se, quando o governo florentino  nos encarregou  de decorar a Grande sala do Conselho do Palazzo Vechio. Miguel Ângelo devia pintar a Batalha de Cascina e eu a Batalha de Anghiari. Miguel Ângelo fez uma composição que exprime simbolicamente o dramatismo do combate histórico dos florentinos. Eu , inspirando.me na “A queda de Faeton”, fiz uma representação do violento choque entre as tropas milanesas e as da aliança florentina-pontíficia, ou seja mostrei a brutalidade da guerra.

Nenhum dos dois foi acabado, porém, esta experiência serviu-me para compreender que temos sempre que aprender com os outros.
     Entre 1506 e 1513 fui para Milão, onde me  tornei conselheiro artístico do governador francês, Charles d'Amboise,  projectando-lhe  novo palácio e pintei “Leda e o Cisne”.

 Com o restabelecimento da dinastia Sforza, fui para Roma, em 1513, onde permaneci sob a protecção de Giuliano de Medicis, irmão do papa Leão X.
 Nessa época, aprofundei as minhas pesquisas ópticas e matemáticas.
Depois da morte de Giuliano, em 1516, fui  para Amboise, a convite de Francisco I, de França  que me nomeou primeiro-pintor, engenheiro e arquitecto.. Continuei então os meus estudos de hidráulica e organizei festas para a corte.
 
 

O palácio que o rei me concedeu, em Cloux ficava ao lado do seu, em Amboise, no vale do Loire. O rei era um homem sensível à beleza e à arte e esteve ao meu lado até aos últimos momentos, em 2 de Maio de 15 19.




Bibliografia:

Antonio Tello, Johanna A. Boccardo , Chamo-me... Leonardo da Vinci, Didáctica Editora, Lisboa, 2005
Era uma vez … o Homem,, nº 13,  A Guerra dos Cem Anos, Planeta deAgostini
Era uma vez … o Homem,, nº 14,  O Homem do Renascimento, Planeta deAgostini
Martin Kemp Vida e Obra de Leonardo Da Vinci , Editorial Presença, 2005
Jaspre Bark, David Hawcock , David Lawrence, Caderno de invenções, Leonardo da Vinci , EdiCare, Lisboa, 2009
Peter Riley, Hemesh Alles, Davud HawooK, Diário e registo histórico de invenções e Descobertas com magníficas reconstruções a 3 dimensões, EdiCare, Lisboa, 2010