sábado, 6 de dezembro de 2014

TRABALHO A REALIZAR EM GRUPO DE PARES


Plano do trabalho:
-Introdução
-Desenvolvimento:
LOCALIZAÇÃO:  Espaço e Tempo
Características:
- Nível civilizacional
- Relacionamento com os portugueses e/ou os espanhóis.
- Influências mútuas.
Conclusão
Bibliografia

Avaliação


TEMAS:

-Povos Africanos
-Escravatura – tráfego negreiro
Ásia     - Hindus
            - Chineses
            - Japoneses
América: - Maias
               - Astecas
               - Incas
               - Índios do Brasil
               - Judeus


 O teu trabalho será avaliado pela correção científica              ( 60%) organização de ideias (30%), originalidade na apresentação (10%).








JAPONESES - As relações entre portugueses e Japoneses




                                            Biombo Nambam



                                                Biombo Nambam

                                              Biombo Nambam - pormenor


Para melhor compreenderes as relações entre Portugal e o Japão, podes ler o artigo inserto no

http://www.nihon.com.pt/chegada.html

CHINESES - AS RELAÇÕES ENTRE PORTUGUESES E CHINESES

China - Portugal
Jorge Álvares, em 1513, terá sido o primeiro português a pisar território chinês ( Tong-men, perto de Cantão). A partir daqui foram muitos milhares os que o fizeram aos longo dos séculos.

Séc. XVI. Depois da primeira expedição à China, Simão de Andrade comanda uma outra 1519, construindo uma fortaleza em Tamão. Os portugueses manifestam a firme intenção de se estabelecerem na China. O Imperador Chinês, temendo as consequências que daqui pudessem resultar, proibe o comércio com os os portugueses.

Apesar das proibições o comércio não parou de crescer e com ele a pirataria. Os chineses mostram-se incapazes de fazerem frente a estes ataques. O auxílio que lhes é então prestado pelos portugueses acaba por alterar a posição do Imperador. Em 1557, as autoridades de Cantão estabelecem com os portugueses um acordo: em troca da defesa das suas costas pela marinha portuguesa, podiam estabelecer-se na China, onde fundam a cidade de Macau,  que rapidamente se tornou na principal porta entre o Ocidente e a China. 

Ao longo do século um número incontável de mercadores, missionários ou simples aventureiros portugueses percorrem toda a China, relatando um mundo fantástico que maravilha os europeus do tempo. Um dos relatos mais impressionantes foi o de Fernão Mendes Pinto (Peregrinação). 

Navegadores portugueses alcançaram a ilha de Taiwan em 1544, batizando-a de Ilha Formosa. Era um ilha habitada por piratas que resistiu durante muito tempo à colonização, inclusivé dos próprios chineses.
Século XVII. Os portugueses de Macau recusam aceitar o domínio de Portugal pela Espanha (1580-1640). A sua fidelidade a Portugal é saudada por D. João IV.
Explorada a costa, os portugueses começam a realizar expedições terrestres: A partir de Goa (India) vão até à China por vários caminhos. Os missionários católicos estabelecem-se cada vez mais pelo interior do continente.

Podes ver o seguinte link:
http://fabiopestanaramos.blogspot.pt/2011/01/as-relacoes-internacionais-entr

JUDEUS

Portugal teria podido proteger muitos dos judeus de origem portuguesa, mas não o fez
JOSÉ MANUEL FERNANDES 
19/06/2009 - 00:00

(actualizado às 00:00 de 20/06/2009)
A história dos judeus portugueses foi condensada em 250 páginas pelo académico alemão Carsten L. Wilke.
Chegaram à Península Ibérica muito, muito tempo antes de Portugal nascer, ainda no século I, quando a Lusitânia fazia parte do Império Romano. Conheceram os reinos cristãos anteriores à invasão muçulmana, foram protegidos pelos primeiros reis de Portugal até ao édito de expulsão, foram perseguidos como cristãos-novos, primeiro no continente, depois no Brasil ou na Índia conforme o longo braço da Inquisição lá foi chegando, começaram a regressar no século XIX mas nunca voltaram a ser uma minoria importante.
Carsten L. Wilke, doutorado em Estudos Judaicos pela Universidade de Colónia, Alemanha, e investigador no Instituto Steinheim de História Judaica Alemã, em Duisburg, aceitou o desafio de condensar em apenas 250 páginas destinadas ao grande público a história dos judeus portugueses. Uma história que o autor considera bem estudada, sendo numerosos os trabalhos académicos, e claramente autónoma da dos outros judeus da Península Ibérica, uma história que, no entanto, é mal conhecida pelos não especialistas num país onde raramente os livros escolares lhe dedicam mais do que rápidas - e escassas - referências.
O que começou por fasciná-lo na história dos judeus portugueses foi o facto de estes gozarem de um estatuto de protecção muito superior ao tinham noutros países na Idade Média. Porquê esse estatuto excepcional?
A protecção excepcional de que beneficiaram os judeus portugueses deriva do poder muito maior que tinham os reis em Portugal. As condições da reconquista criaram, até pela fuga de parte da população muçulmana, condições especiais para que os reis e os aristocratas protegessem os judeus contra as aspirações da Igreja e o preconceito popular. A Casa Real também utilizou os judeus como instrumento de centralização de poder.
Nessa relação não terá também tido influência não termos vivido um regime medieval clássico, de os reis, para dominarem o território, terem outorgado cartas de foro a muitas povoações dando-lhes grande autonomia?
Os judeus nessa época não viviam apenas nas cidades, não eram só comerciantes. A distribuição das suas populações era dispersa durante toda a Idade Média. Em Portugal sabemos que estavam muito presentes nas zonas rurais do interior, de Castelo Branco a Bragança. Para além disso, utilizaram os judeus para povoarem as zonas que iam conquistando aos mouros...
Recentemente um estudo genético mostrou uma forte presença de genes mais frequentes entre judeus nas populações do sul da Península, Portugal incluído...
Li vários artigos sobre esse estudo que me surpreendeu muito. Por um lado temos toda a pesquisa documental, que apontava num sentido, e depois esse estudo genético que aponta numa direcção diferente. A documentação apontava para Trás-os-Montes, para a Beira Interior, e agora os traços dos genes apontam para sul. A sede, por assim dizer, do cripto-judaísmo português sempre foi Bragança. Temos de investigar mais, mas a presença mais forte de genes a sul poderá mostrar que a mistura foi mais forte a Norte do que a Sul.
Os primeiros sinais da presença judaica em Portugal datam do ano 69 DC, por altura da segunda destruição do Segundo Templo, agora pelos romanos. Aqui viveram ainda com o Império, depois viveram nos múltiplos reinos cristãos que se formaram, por fim sob a dominação árabe. Foi no período do Al Andaluz que viveram melhor?
A situação dos judeus conheceu uma enorme melhoria com a invasão muçulmana. Antes era frequente os reinos cristãos tentarem converter os judeus ao cristianismo pela força: ou se convertiam ou eram expulsos. Muitos viam-se obrigados a prosseguir os seus ritos clandestinamente e se eram descobertos faziam deles escravos. Não custa a crer que essas comunidades judaicas tenham apoiado a tomada do poder pelos muçulmanos. Ao mesmo tempo, os muçulmanos perceberam que os judeus podiam ser-lhes úteis para controlarem um território onde as populações cristãs eram mais numerosas do que as islamizadas.
Mas essa benevolência não durou sempre...
Não. Houve períodos em que a Península esteve dividida em vários reinos rivais, houve uma nova invasão vinda do Norte de África e com ela vieram dirigentes islâmicos mais fanáticos que, também eles, queriam converter tantos os judeus como os cristãos ao islamismo. Isso sucedeu por volta do no século XII, época em que os judeus voltaram a ser melhor acolhidos nas áreas cristãs da Península e migraram de sul para norte.
Esse período coincide com a criação do Reino de Portugal, com a tomada de Lisboa. O que se sabe sobre os judeus que aqui viviam?
Infelizmente muito pouco, pois investigou-se mais o que se passava em Granada ou em Córdova. Nunca se colocou a questão de saber qual a diferença na área de Portugal. Há um documento interessante que mostra que a autoridade máxima judaica na Lusitânia tinha, na época muçulmana, um poder como não existia em nenhuma outra comunidade. Podia realizar julgamentos, determinar penas, condenar à morte. Dir-se-ia que o extremo ocidental da Península, e da Europa, era o "wild west": havia pouca autoridade mas havia homens poderosos. Isto também ajuda a explicar a protecção que os primeiros reis de Portugal deram aos judeus. No fundo tiraram partido de uma elite mais culta e com algum poder que os podia servir.
O que sucede é que a mudança de atitude dos reis portugueses vai ter lugar nos séculos XV e XVI, que são os dois séculos de glória de Portugal. Um dos primeiros reis a perseguir os judeus é D. João II, para os portugueses O Príncipe Perfeito.
Exacto, quando o seu pai, Afonso V, foi o rei que se destacou na protecção dos judeus.
D. João II foi o rei das grandes expedições. Onde estavam os judeus no seu tempo?
Financiavam os investimentos necessários. E muitos eram os estudiosos, os sábios, os que apoiaram com estudos, levantamentos e mapas essa epopeia.
Porquê então a mudança de atitude?
Temos de perceber o que era o Portugal de então para os judeus no quadro de uma Europa que, no século XV, foi terrível para esta minoria, que era perseguida por todo o lado. Muitos dos judeus fugidos foram acolhidos em Portugal por D. Afonso V, boa parte deles vindos de Espanha que os expulsou muito antes de nós. Nessa época só dois estados aceitavam os judeus que estavam a ser expulsos de todo o lado: Portugal e a Polónia. D. João II continuou a receber os judeus como o pai, mesmo sendo menos hospitaleiro, pois a sua principal preocupação era consolidar o seu poder pessoal contra os poderosos do reino e as diferentes elites. O que por vezes influencia a sua imagem negativa junto dos judeus foi ter enfrentado a Casa de Bragança, aliada dos judeus, o que indignou Issac Abravanel cujos escritos influenciaram a imagem negativa, na historiografia judaica, de D. João II. Mesmo assim é verdade que, nesse reinado, o estatuto dos judeus se degradou, mas nada que pudesse anunciar, ou mesmo fazer prever, o que viria depois.
D. Manuel, que lhe sucede, tem um comportamento diferente dos Reis Católicos: não força a expulsão, antes permite a permanência dos judeus desde que se convertam ao cristianismo. À primeira vista parece uma atitude mais humana, mas muitos pensam hoje que foi muito mais cruel...
Sem dúvida. Do ponto de vista da história do judaísmo foi mais cruel, muito mais duro, aquilo que Portugal fez. D. Manuel tinha muito mais necessidade de manter a comunidade judaica do que os Reis Católicos, e por isso tentou evitar que ela se exilasse. Há séculos que as finanças da coroa eram administradas por judeus, reinado após reinado eles eram como que os ministros das Finanças. A tensão que se criou com Espanha foi que os Reis Católicos não podiam tolerar uma presença tão forte dos judeus em Portugal e D. Manuel sabia que não podia haver expansão portuguesa sem estar em paz com os seus vizinhos. Daí que tentou a quadratura do círculo: ficar com os judeus conseguindo que eles se convertessem. Fê-lo por interesse, se bem que tivesse começado a surgir em Portugal uma classe que queria competir com os judeus no comércio internacional, gente que não aceitava o monopólio dos judeus.
Para os judeus a conversão forçada foi então pior do que a expulsão?
Claro. Para os religiosos, era intolerável aceitar uma religião estrangeira. Para os comerciantes e para elite era a catástrofe. Lisboa era o centro do mundo, o lugar central da mudança da economia mundial. Se pensarmos que tinha sido aos judeus que D. Manuel dera a possibilidade de gerir os negócios coloniais, a sua expulsão ou conversão forçada resultaria sempre em catástrofe. Viveram um dilema terrível: não podiam sair, porque o rei impedia-os, e não podiam senão praticar o judaísmo clandestinamente. Eram judeus em casa, cristãos na rua. Pior: D. Manuel procurou integrar os cristãos novos e permitiu que continuassem a negociar e prosperar, tendo até benefícios da coroa. O horror estava nas conversões forçadas, sobretudo das crianças arrancadas aos pais e, mais tarde, na ferocidade da Inquisição. É nessa altura que os judeus que podem fugir começam a fazê-lo.
E o que se passou nas colónias? Os judeus, ou os cristãos-novos, desempenharam um papel central na florescente economia do Brasil antes de a Inquisição lá ter chegado.
Houve vários motivos para que a civilização cripto-judaica tenha podido sobreviver mais tempo no Brasil. Por um lado, o território era vastíssimo. Por outro lado, a coroa preferiu, durante muito tempo, manter o Brasil na dependência de Lisboa e isso teve como consequência que a Inquisição não pôde instalar um tribunal próprio na grande colónia. Finalmente é bom recordar que muitos dos judeus fugidos de Lisboa se instalaram nos Países Baixos e que estes também chegaram a ocupar partes do Brasil. Os laços entre essas duas comunidades que se conheciam permitiram um desenvolvimento do comércio que teria sido impossível noutras circunstâncias.
Tudo muda quando a Inquisição chega ao Brasil?
Sim. Isso passa-se no início do século XVIII, quando se instala no Rio de Janeiro. É nessa altura que centenas de brasileiros, acusados de cripto-judaísmo, são perseguidos, condenados e mortos. A historiografia estabelece de forma clara que essas perseguições estão ligadas ao declínio da prosperidade do Brasil, na época mais rico do que as colónias inglesas que dariam origem aos Estados Unidos. Mas isso só se tornaria claro no século XIX, graças ao desenvolvimento do capitalismo e das instituições democráticas nos novos Estados Unidos.
Pensadores portugueses como Antero de Quental pensam que existe um antes e um depois da presença judaica e associam a decadência ibérica à expulsão dos judeus da Península. É verdade?
Temos de distinguir entre judeus e cristãos-novos. Na verdade é uma tese antiga mas que tem um problema: o auge do poder de Espanha e de Portugal ocorre depois da expulsão dos judeus, no século XVI...
Mas ficaram os cristãos-novos, os cripto-judeus...
Exacto. É por isso que temos de ver o que se passou com a Inquisição, sobretudo porque esses cripto-judeus formavam boa parte não só da burguesia mercantil mas também eram artesãos e muitos deles integravam a elite intelectual do país. Com a Inquisição essa camada da população empobrece e os comerciantes são substituídos por estrangeiros, ingleses e franceses. Gradualmente, sobretudo no século XVII, Portugal foi ficando dependente do estrangeiro devido à acção da Inquisição. É neste quadro, que cruza os séculos XVI e XVII, que se pode dizer que a Inquisição enfraqueceu Portugal ao destruir uma parte importante, senão fundamental, da sua elite mercantil e intelectual.
O poder real não interveio porquê? Interessava-lhe? Não podia?
Portugal viveu uma época de tensões entre os que desejavam tirar proveito da expansão ultramarina e os sectores que preferiam manter um tipo de vida mais tradicional, mais rural. O poder real ainda fez gestos para limitar o poder da Inquisição, decretou amnistias gerais, mas o Rei não era um "partido" que pudesse estar de um dos lados nestes conflitos. O Rei procurava conciliar os diferentes interesses, o que criou situações contraditórias e levou a soluções de compromisso economicamente insatisfatórias. Isto mesmo tendo podido contar com o apoio dos Jesuítas que, no século XVII, queriam limitar o poder do Santo Ofício e, em Portugal, tiveram uma voz tão distinta como a do Padre António Vieira. Nas colónias, por exemplo, os jesuítas procuraram proteger os cristãos-novos porque perceberam que eram muito importantes para o desenvolvimento das colónias, em especial no Brasil. O conflito foi longo, durou várias décadas após a Restauração de 1640, mas a vitória acabou por ser a das forças mais conservadoras.
Os judeus começaram a regressar a Portugal no início do século XIX, formando comunidades pequenas, as primeiras em Lisboa e nos Açores, só que isso sucede quando na Europa estava a surgir um novo tipo de anti-semitismo, baseado na raça. Como explica?
O liberalismo em Portugal entrou de forma lenta e incompleta e, até ao fim da Monarquia Constitucional, a única religião aceite continuou a ser o catolicismo. A prática do judaísmo era, contudo, permitida aos estrangeiros e começou logo após as invasões francesas, altura em que já havia uma pequena sinagoga em Lisboa, algo impensável em Espanha. Eram grupos pequenos, sobretudo de comerciantes e ligados a negócios com o Reino Unido. Quando, por fim, depois da revolução do 5 de Outubro, o judaísmo foi reconhecido como religião de corpo inteiro, Portugal já se transformara num país de emigrantes, num país pobre que dificilmente poderia atrair grandes comunidades estrangeiras.
Contudo teria sido possível que os judeus que tinham saído de Portugal, que até tinham mantido as tradições e a língua, regressassem ao país dos seus antepassados. Não o fizeram, mesmo quando a ameaça nazi se foi tornando cada vez mais clara. Porquê?
Historicamente Portugal teria podido proteger muitos dos judeus de origem portuguesa, mas não o fez. Paradoxalmente isso não se passou em Espanha, onde no final do século XIX houve um movimento de redescoberta dos judeus sefarditas do exílio que funcionaram como "embaixadores" do país na diáspora. Talvez isso tivesse sucedido por a Espanha ter sofrido, em 1898, o choque do fim do Império e Portugal não... Mesmo assim Portugal, quando Hitler já estava no poder, teria podido salvar milhares de judeus descendentes dos que tinham partido séculos antes, mas Salazar nada fez e as comunidades que existiam em Bordéus, em Amesterdão ou em Salónica, por exemplo, foram completamente destruídas.
Quando os judeus são expulsos de Portugal também ainda vivia cá uma significativa comunidade muçulmana. O que é que lhe aconteceu?
O édito não visava apenas os judeus, também obrigava os muçulmanos a partirem. Contudo essa comunidade não só era muito mais pequena como, do ponto de vista económico e cultural, tinha muito menos influência. As consequências da sua saída seriam sempre menos importantes. Para além de que, como escreveu Damião de Góis, ele mesmo um cristão-novo, houve sempre uma grande diferença no tratamento dos judeus e dos muçulmanos porque estes tinham estados poderosos que poderiam defendê-los. Os judeus é que não tinham quem os defendesse.

Por outro lado, nas zonas rurais, era comum os muçulmanos converterem-se ao cristianismo, e os cristãos ao Islão, conforme o poder do momento. Já os judeus, habituados a viver em minoria, resistiam mais a mudar de religião. Isso vê-se bem nos autos da Inquisição, onde também os casos de cripto-islamismo são muito menos numerosos do que os processos por cripto-judaismo.
https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4386545808372906454#editor/target=post;postID=5811968940989608914 - 06-12-2014

ESCRAVATURA






Christian Maucler, Moniot, Henri, As Civilizações de África, A História dos Homens, Lello & Irmão

POVOS AFRICANOS

























































Christian Maucler, Moniot, Henri, As Civilizações de África, A História dos Homens, Lello & Irmão

ÍNDIOS DO BRASIL

O escrivão Pêro Vaz de Caminha (1450-1500), que integra a frota de Cabral, encarregado de descrever essa “nova terra” ao rei de Portugal, Dom Manuel (o venturoso), destaca na sua carta, os principais objetivos dessa armada portuguesa, dentre os quais a busca pelo crescimento económico dos ideais mercantis, a expansão dos ideais cristãos e a afirmação de Estado português. Vejamos alguns trechos dessa carta de Caminha, escrita nos primeiros dias de maio de1500:
[...] Esta terra, Senhor, é muito chã e muito formosa. Nela não podemos saber se haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal; porém, a terra em si é de muitos bons ares [...] as águas são muito e infindas. Em tal maneira (a terra) é grandiosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causadas águas que tem. Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza esta pousada para a navegação [...], isso bastava. Mas ainda, disposição para nela cumprir-se – e fazer – o que Vossa Alteza tanto desejava, a saber o acrescentamento da nossa Santa Fé! [...], pois o desejo que tinha de tudo vos dizer, mo fez por assim pelo miúdo. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Desde Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. (CAMINHA, Carta 1500)
Esse trecho da carta exemplifica o que já foi dito acima. Observemos uma descrição espacial do meio da “gente” que nela habitava.
[...] Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. [...] Eles não lavravam, nem criavam. Não há aqui boi nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem qualquer outra animália, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente de frutos, que a terra e as árvores de si lançam [...]. (CAMINHA, Carta 1500)
Vemos aqui uma breve descrição dos seres “semelhantes a homens” que os portugueses viram na costa dessa terra desconhecida do mundo europeu

 [...] A língua de que (os índios) usam, toda pela costa, é uma: ainda que em certos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se deixem de entender. [...] Carecem de três letras, convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não tem Fé, nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente [...] (GÂNDAVO, 1576).
Esses homens chamados índios, devido às primeiras intenções dessas expedições marítimas em busca das rotas rumo as índias orientais, em princípio foram o grande alvo de discussões dos séculos que se seguiram. Bem como Gândavo mencionou, esses homens não possuíam os fundamentos ocidentais, rei para governar com mãos fortes e poder absoluto, lei para manter a ordem e a civilidade e ter a fé católica e seus valores. Mas também mostrava o interesse dos europeus em conhecer toda essa gente

TUPI-GUARANI
Segundo Berta Gleizer Ribeiro, o povo que Pedro Álvares Cabral encontrou na costa do atual estado da Bahia, era chamado de Tupiniquim, pertencendo à grande família Tupinambá do tronco linguístico tupi-guarani, localizados na costa. Foram esses tupis, que informaram os primeiros cronistas e jesuítas a que havia uma “divisão” entre os que povoavam a terra: seriam os que falavam a língua deles e tinham os “mesmos” costumes e todo aquele que não era assim foram chamados de tapuia, que para Berta Ribeiro significa “escravo” – também pode significar o “outro”. Essa divisão serviu principalmente para adistinção dos indígenas do litoral dos do que residiam no sertão. Os tupi viviam numa estreita faixa ao longo da costa, de São Paulo até o Pará. A primeira gramática de sua língua foi escrita pelo padre José de Anchieta. A língua guarani era falada de São Paulo ao Rio Grande do Sul, bem como no Paraguai, onde ainda hoje é de uso tradicional entre a população rural e mesmo da capital, Assunção e na zona de fronteira no sul de Mato Grosso. Usualmente, os tupi, habitantes do litoral, eram chamados de tupinambá, sendo divididos em diversos grupos locais. Os Tupiniquim e Tupiná na região de Porto Seguro e Espírito Santo; Os Tamoio e Temirnino do rio Paraíba até Angra dos Reis; Os Carijó do rio Cananéia até a Lagoa dos Patos; Os Tape no litoral rio-grandense; Os Caeté na região do rio São Francisco até o rio Paraíba; Os Tabajara do Itamaracá até o rio Paraíba; Os Amoipira na região do São Francisco; Os Potiguares que abrangiam as regiões da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e os Tupiná na área mais próxima do interior de Pernambuco. Foram os tupi que, no decorrer da presença portuguesa , mais influenciaram na formação da sociedade brasileira. Os tupi, também ficaram conhecidos por uma lenda que era contada ao longo das gerações e foram repassadas aos colonos portugueses. Era a lenda de que havia uma legendária “terra sem males” ou um “paraíso terrestre” em algum lugar, e esse conto, foi de bastante ajuda na catequização dos mesmos, uma vez que se convertendo a Cristo, teriam a salvação e a vida eterna e iriam para a “terra prometida”.
OS “TAPUIAS” eram chamados genericamente de “tapuia”, eram grupos filiados numa família linguística de língua isolada, ou seja, os não tupi. Para Berta Ribeiro, são povos de cultura material mais simples, no entanto, a maneira como organizam a vida em sociedade é bem mais “complexa” e “elaborada” que a dos tupi-guarani ou dos povos da floresta tropical.
Na verdade, quando os portugueses chegaram à costa brasileira, ainda havia algumas tribos ditas “tapuias” .Os “tapuias” ou os de língua jê, encontravam-se distribuídos da seguinte forma: os Guaianá, onde os seus descendentes são os Kaingáng, na região de São Paulo e Paraná; os Goitacá ou Guaitacazes na região do Rio de Janeiro e Espírito Santo que no século XIX serão chamados de Puri, Coroado e Coropó; Os Aimoré ou Botocudos (hostis) na região da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, são os mais temidos do período colonial português; os Karirina região onde hoje é o Nordeste, são um dos “tapuias” mais famosos do Brasil; Kaypó ou Ibirajara meridionais relatados pelo padre Anchieta; os Tarairiu, também da região Nordeste, aparecem na literatura de cronistas holandeses como Marcgraf, Barleus, Roulox e outros. Outros povos também chamados de “tapuia” são os Malili, os Kamakã e os Makali, pois possuem línguas independentes. Gabriel Soares, um oficial português, escreveu em 1587 sobre os índios Guaianá: “[...]é gente de pouco trabalho [...]; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa companhia, e quem acerta de ter um escravo Guaianá não espera dele nenhum serviço, porque é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar.”
 Podemos ver como as conceções de trabalho dos europeus eram bastante diferentes do das culturas indígenas. Os índios normalmente dividiam as suas tarefas por sexo e por idade, ou seja, as mulheres cozinhavam, cuidavam das crianças, plantavam e colhiam; já os homens participavam de atividades guerreiras, da caça, de pesca e do derrube da floresta para fazer a lavoura. A sua produção destinava-se à subsistência, realizando apenas trocas rituais de presentes – ritual que foi essencial para os contatos com os colonos portugueses. Dos povos que os portugueses encontraram em 1500, restam pequenos grupos muito como os Potiguares e Pataxós, na região entre Paraíba e Bahia; os Tupiniquim na região do Espírito Santo; os Guarani, nas regiões de São Paulo e Mato Grosso; os Kaingáng na região sul. Constituíam uma espécie de ilhas no meio da população “neobrasileira”




ASCENSÃO DA ESCRAVIDÃO NEGRA
A mão-de-obra indígena não supria as exigências dos engenhos,  era difícil sustentá-las nas fazendas  o que estava a gerar muito prejuízo aos colonos. Pouco a pouco, os senhores dos engenhos começaram a comprar escravos vindos da África. Segundo Stuart Schwartz, em fins do século XVI, a mão-de-obra dos engenhos era mista do ponto de vista racial, e a proporção foi aumentando em favor dos africanos importados e sua prole. Schwartz também apresenta dados sobre esses acontecimentos: “Em 1572, o Engenho Sergipe possuía 280 escravos adultos, dos quais apenas vinte (7%) eram africanos. Em 1591, a população cativa do engenho era de 103 indivíduos, 38 (37%) deles africanos. Em 1638, quando a propriedade foi arrendada a Pedro Gonçalves de Matos, havia 81 escravos, todos eles africanos ou afro-brasileiros. ”Na verdade, a transição para uma força de trabalho africana foi efetuada nas primeiras décadas do século XVII, época em que a indústria açucareira experimentava rápida expansão e considerável desenvolvimento interno devido aos altos preços internacionais do açúcar, do crescimento do mercado europeu e, de acordo com Schwartz, também a questão da paz nos mares com a trégua dos doze anos entre Espanha e Holanda (1609-1621).A visão que se tem do negro é que ele tem certa “predisposição” ao trabalho escravo. Para Schwartz,
[...] Os africanos sem dúvida não eram mais “predispostos” ao cativeiro do que índios, portugueses, ingleses ou qualquer outro povo arrancado da sua terra natal e submetido à vontade alheia, mas as semelhanças da sua herança cultural com as tradições europeias valorizavam-nos aos olhos dos europeus. A suscetibilidade dos índios de todas as idades às doenças europeias aumentava o risco do investimento de tempo e capital para treiná-los em trabalhos artesanais ou de fiscalização. [...] A saúde e a perícia dos africanos, bem como a sua pouca oposição ao cativeiro, podem explicar a relutância dos senhores de engenho em investir no treino de escravos indígenas; [...] (SCHWARTZ, 1988, p.70).
No Brasil, a posição relativa dos cativeiros indígenas e africanos na força de trabalho da indústria açucareira, para Schwartz, pode ser vista na sua forma simples e crua nos preços relativos de indivíduos dos dois povos. O preço médio de um africano em ocupações durante os anos de 1572 era de 25 mil-réis enquanto o dos nativos com as mesmas ocupações valiam cerca de 9 mil-réis. Somente indígenas com ocupações artesanais - carpinteiros, caixeiros e calafates – possuíam o “devido valor”, semelhante aos dos africanos.

 208.1 A IGREJA E A ESCRAVIDÃO
A escravidão, inicialmente dos índios e posteriormente dos negros africanos, foi um fator decisivo para a implantação da grande lavoura canavieira no Brasil. Por isso, em plena dita “Idade Moderna”, de acordo com a mentalidade colonialista, justificava-se a escravidão com os seguintes argumentos: os índios eram criaturas bestiais, antropófagas, supersticiosas e desprovidas de razão e da fé cristã, portanto, sujeitos ao domínio civilizacional da Europa; A escravidão era imprescindível à formação do Brasil, pois os escravos eram os “pés” e as “mãos” dos senhores de engenho; os africanos, descendentes de Caim e amaldiçoados por Deus, deveriam sofrer no Brasil, purgando seus pecados, como forma de alcançar a salvação; o comércio de escravos e a propagação do cristianismo retiravam os africanos do estado de barbárie em que viviam, evitando que os mais fortes destruíssem os mais fracos em guerras tribais. “Oh se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil conhecera bem quanto deve a Deus e a sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça e não é senão milagre e grande milagre!”(Padre António Vieira, 1633)
[...] Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando; os escravos perecendo a fome; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para açoite, como estátua da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás, como imagem vilíssima de servidão e espetáculos da extrema miséria. Oh Deus! Quantas graças devemos à Fé que nos destes, [...] para que à vista destas desigualdades reconheçamos com tudo vossa justiça e providência! [...].
(Sermão do Padre António Vieira) Na verdade, os colonos portugueses em geral não se sentiam propensos a renunciar ao controle dos índios, especialmente quando podiam ser obtidos por uma “ninharia”, e demonstraram essa aversão com protestos e manifestações políticas, particularmente nos anos de 1609 e 1640.

VISÃO INDÍGENA: DE ONDE VIERAM OS EUROPEUS?
Os europeus procuraram uma explicação coerente e homogénea sobre a origem dos índios. Até hoje, não se sabe exatamente. Existe a versão religiosa e a cientifica. Quanto aos índios, o que pensaram eles dos europeus? Para Melatti, cada sociedade indígena tem uma resposta diferente. O único consenso, é que a maioria dessas explicações estão fazem parte de relatos míticos contados pelos mais antigos e passados de geração em geração. Neles essa questão aparece não raro ligada a uma outra: a de explicar porque os indígenas se acham numa situação de subordinação, de povos dominados, perante os brancos. É tema digno de questionamento. Porque os índios procurariam explicar a sua “inferioridade” técnica perante os europeus? Porque se considerariam eles inferiores e “constrangidos” frente a civilidade branca? Se se contavam essas histórias nas tribos, porque é que os índios não procuraram tal civilidade? E para terminar, esses mitos foram forjados antes ou depois da presença europeia?
 
REFERÊNCIAS
MELATTI, Julio Cezar. De onde vieram os índios. In:Índios do Brasil. 7.ed. São Paulo:HUCITEC; Brasília: EDUNB, 1993. cap. 1, p.5-18.MONTEIRO, John Manuel. Contato, alianças e conflitos. In: Negros da terra: índios ebandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. cap. 1, p.29-36.-FUNARI, Pedro Paulo A.; NOELLI, Francisco Silva.
Pré-História do Brasil: As origens dohomem brasileiro, O Brasil antes de Cabral e Descobertas arqueológicas recentes. 2.ed. SãoPaulo: Contexto, 2005.RIBEIRO, Berta Gleizer. O Brasil indígena. In:___.
O índio na história do Brasil. 6.ed. SãoPaulo: Global, 1983. cap. 2. p.19-40. Os aborígenes descobrem o europeu.
Revista USP: dossiê quinhentos anos de América, São Paulo, n. 12, dez./jan./fev. 1991-1992. p.37-47.SCHWARTZ, Stuart B.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. SãoPaulo: Companhia das Letras, 1988. cap. 2;3, pp.40-56;57-73.
OUTRAS REFERÊNCIAS
CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao rei de Portugal. 1500.GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Crônicas e História da terra de Vera Cruz. 1576.RELATOS. “Avulsos” do século XVI.

https://www.academia.edu/6110140/PRIMEIROS_CONTATOS_ENTRE_NATIVOS_E_EUROPEUS_S%C3%89CULO_XVI_Coloniza%C3%A7%C3%A3o_portuguesa